A suprassunção da consciência

O verbo suprassumir (aufheben) é próprio da filosofia de HEGEL (+1831), no qual ele propõe a superação das contradições encontradas no conceito de consciência, procurando, através da dialética, suas implicações com a Natureza e a Cultura. Pois as diferenças entre nosso corpo material e nossa consciência são de tal grandeza que necessitam de um salto mágico para que consigamos compreendê-los. Não obstante, podemos, numa investigação preliminar, obter algumas indicações de como isto se torna possível.

Com efeito, a natureza de nossa consciência ocupa uma dimensão estranha às características de nosso corpo, dando-nos a impressão de que ela representa um acréscimo inusitado, como proveniente de outra dimensão, semelhante a um desnível. Pois que o Universo se encontra impregnado de espiritualidade, importa considerá-la imanente em todas as dimensões universais, completando a sua transcendência. Dessa forma, passamos a conceituá-la como sensível, virtual, espiritual e transcendente ocupando um lugar proeminente em tudo o que observamos.

Dessa forma, a consciência nos é sensível pelo fato dela ser responsável por nossa identidade como EU. Diferente de nosso corpo, ela está em nós como alguém que habita uma casa, não se confundindo com ela. Trata-se aqui de uma relação transcendental, que ultrapassa qualquer tentativa natural de explicação.

Assim, a natureza da consciência nos é virtual, ocupando uma fenomenologia apenas através de suas características de simetria em mandalas e fractais, moldando e atingindo um contexto de harmonia e perfeição não presentes em nossa pura sensibilidade, alcançando então o nível abstrato de nosso conhecimento e o de nossa apreciação dos valores, influindo em tudo que somos.

Por consequência, ela assume características de espiritualidade, nos capacitando a sermos criativos, racionais, emotivos e dotados de liberdade, nos afastando, de maneira radical, da pretensa semelhança com a materialidade animal. Ora, reconhecer esta espiritualidade representa colocar a consciência como algo transcendente, oriunda de parâmetros sobrenaturais, alheios a esta realidade material que nos oprime, nos colocando no dealbar de uma vivência e perfeição espiritual que passa a depender apenas de nós, em nossa vivência. Assim, colocar nossa consciência em nível de suprassunção é superar suas limitações em nossa subjetividade, reconhecendo sua autonomia como fenômeno intrínseco à natureza íntima do Universo e da Cultura e também em nossa alma.