A história consistente

O universo humano se subdivide em realidades de fato e realidades de ideias, ou seja, vivemos imersos em duas realidades diferenciadas de acontecimentos e intenções, obtidas por meio de nosso espírito. A filosofia clássica sempre considerou estes dois mundos como complementares, um servindo ao outro como substratos unificados, obtidos por nossas desenvolturas intelectuais.

Não obstante, o pensamento moderno, inspirado em historiadores descomprometidos com a ontologia dos fatos, pretende separar esta estrutura polifórmica entre fatos e ideias, transformando a História apenas numa sucessão aleatória de acontecimentos. Ora, esta ruptura conceitual se torna por demais destruidora da coerência, que, a todo momento, está a nos garantir sua diferença, ora como historiografia, ora como historiologia, senão vejamos:

-O real é, para nós, obtido de uma forma histórica

-a história se explicita para nós de uma forma factual e virtual

-os fatos vêm primeiro, induzindo as versões

-a evolução da história humana almeja sua transformação espiritual.

Dessa forma, a partir de nossos conhecimentos, aderimos a eles uma consistência condicionada, uma atmosfera de valores, uma estrutura que envolve noções de princípio e causa, dependentemente de como os fatos se processam. Ora, isto acaba resultando na prevalência da estrutura espiritual de nossa mente, nos caracterizando como seres dotados de uma prevalência espiritual, deixando os fatos ao sabor de nossas conclusões preferenciais.

Por isso, estas propriedades acabaram transformando a espécie humana numa civilização que deveria estar voltada para o mundo em evolução espiritual, o que conseguiu a modernidade apenas no mundo material, tendo em vista suas carências milenares de subdesenvolvimento, relegando o mundo das consistências voltado preferencialmente para uma filosofia do desenvolvimento e da paz, porém não tendo ainda conseguido. Daí os desafios pela transformação, que haverá de se dar somente quando a humanidade, cada vez mais, passe a valorizar seus desejos de consistência histórica, presente na hermenêutica ontológica dos fatos.