Podemos sentir o transcendente em nós de diversas maneiras, motivadas que são pelas características originais de nossa consciência ou espírito. Situado além do espaço e do tempo, ele é o principal paradigma orientador de nossa existência, nos capacitando superar as contingências ou limites impostos pela materialidade de nosso corpo.
Então, no que diz respeito ao tempo, este se nos apresenta em seus momentos diferenciais como presente, passado e futuro, porém, entre estes três momentos só tem realidade o instante presente, o que nos indica, com esta exclusividade, que a transcendência está entre nós. Não obstante, a dinâmica do mundo sensível necessita do mutável para assegurar a sua continuidade, o que é bastante estranho para nosso Espírito, que é imutável em si mesmo.
No que diz respeito ao espaço, nosso espírito nos permite ultrapassar os limites geográficos de nossas percepções, alcançando assim todo o Universo em seus limites infinitos, nos parecendo ser um Cosmos transformador, porém eterno desde as suas origens, tornando-se semelhante ao ser Criador.
Igualmente, pelo efeito antrópico, o Universo nos coloca no centro da evolução cósmica, nos destinando um sentido superior de nossa presença nele, restaurando assim a importância que temos na maneira de conduzir nossos atos, contribuindo ou destruindo o acervo já conquistado pela evolução.
Assim, aceitar os apelos do transcendente em nossa vida se torna um desafio, face à laicidade que a cultura moderna impõe à cada um de nós, que nos faz sentirmos ingênuos ou simplórios em nossos enlevos. Contudo, sentimos em nosso coração um apelo constante de superação à indiferença diante do transcendente, como confirmam os anseios permanentes de nossa espiritualidade inata. Nestes casos, o apelo ao transcendente seria como que um veículo divino na superação de nossos limites naturais, nos colocando próximos à origem de todas as coisas.
Pois, isto só é possível em termos não naturais, acolhidos que possam ser colocados acima da controvérsia de suas negatividades, um reino divino de manifestação plena do Espírito, do qual possamos sentir os eflúvios necessários à nossa transformação radical. Dessa forma, a dialética da Natureza (omnis determinatio est negativo), se nos apresentaria como uma realidade extrínseca à eclosão plena da espiritualidade, como um artifício mental que necessitaria ser superado, aceitando o aforismo alternativo (omnis determinatio est implicatio), de origem holográfica e holística.