O impressionismo de MONET e o surrealismo de SALVADOR DALI expressam bem o mundo das virtualidades, presentes nas muitas figurações das coisas que percebemos, envoltas num realismo mágico, à mercê das perspectivas com que as vislumbramos. Dessa forma, tais arranjos caracterizam o extraordinário das coisas, ou seja, seus contornos ora precisos, ora inusitados, causados pelas características especiais de nosso espírito, que molda e transfigura nossa visão, permitindo sentir tudo sob a mira do extraordinário e do transcendente.
É assim que, em vários aspectos, podemos sentir a virtualidade dos objetos na multiplicidade de seus contornos e nos significados que eles têm para nós; no relativismo do tempo que não para; na intensidade e variedade de nossas emoções, nas imagens e na presença de pessoas, imortalizadas pelos ícones e pelos mecanismos de nossa memória. Assim, podemos considerar como provindas de virtualidades as seguintes manifestações:
1) O estofo rarefeito do concreto, pois é fato que as micropartículas atômicas destroem a substancialidade das coisas, tornando-as aparentes e ilusórias em sua consistência. Todos os seres doravante são apenas aglomerados provisórios de massas energéticas (sic).
2) A dinâmica do tempo, pois nada é mais provisório do que o momento presente, passado ou futuro delimitando, seja a duração de nossa vida, seja a evolução dos acontecimentos.
3) A variedade das emoções: pois no correr do dia, oscilamos entre a alegria e a tristeza, o certo e o errado, o sensato e o insano, o que torna nossa subjetividade volúvel e incerta em seus efeitos.
4) A virtualidade dos símbolos, intuídos por nós a partir de nossa sensibilidade visual, estética ou extática, que captam diferentes nuances da realidade percebida.
5) A multiplicidade dos significados, presentes na variedade das interpretações semânticas, textos, situações ou acontecimentos.
6) A intuição de valores, fundamentais na escolha de nossas preferências usuais, agregando-lhes mérito ou demérito.
7) A criação das ciências experimentais ou abstratas, como produtos de nossa compreensão lógica, modificando e estrutura da realidade.
8) A experiência da fé, sentida tanto mais real quanto nosso aprofundamento místico, mais de confiança do que iniciativa pessoal.
Ora, essa caracterização extraordinária de nossas impressões sobre o mundo se dá por conta do caráter espiritual de nosso ser, cuja transcendência/ imanência ora constata, ora transfigura todas as coisas.